terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pés no chão, cabeça nas nuvens.

A menina fita a janela após um dia intenso de dedicação. Vê seus sonhos num reflexo simultâneo de acontecimentos. Sorri, sozinha, depois das luzes apagadas e o silêncio reinante. Sente um quentinho no peito, um aconchego de casa, de abraço materno, está só,  mas dentro, a multidão que a habita, felicita a hora do descanço. E com tanta alegria, decide permanecer um pouco mais a observar as gotas, as senhoras e seus guarda-chuvas, os bêbados e seus caminhos tortos. Sente-se livre, enfia a mão na terra das plantas da janela, fecha os olhos. Está subindo além das nuvens, acima da chuva. Brinca nas esrelas antes invisíveis, agora companheiras na imensidão. Gosta do escuro, do verdadeiro silêncio reinante, gosta de olhar pra terra lá longe. Observar as dúvidas de cima, parecem mais nítidos seus propósitos dessa forma. Encantada no fluxo leve com que seu corpo se move no espaço, a menina esquece das horas, da fome, dos desejos. Só quer pensar na lua, brincar nas estrelas, se perder no infinito.
Assim, vive a beleza sem tempo, delicia-se doce e ditosa.
Mas o peito revolve qualquer querência, a menina exita, há algo estranho.
Quer dividir. Contar a todos quão brilhantes são as novas amigas, quão linda é a terra e suas cores, quão intensa é a escuridão e a luz do caminho. Decide que mesmo tendo as galáxias como destino, quer a terra, quer tocar o chão e sofrer com a gravidade, quer colo e afago. Volta disparada, pra sua janela quadrada, recortada à noite.
Tem medo, de não voltar a amplitude, de não mais ver a vastidão gigantesca.
Se recolhe em seu ninho protegida, julga-se boba por acreditar nesses devaneios, sente-se estranha e fora de lugar.
Decide ir a rua, sentir as gotas molharem seus cabelos, correr frente aos carros, dançar nos postes, criar um novo ponto de vista, trocar com os bêbados e as senhoras.
Então, num olhar de relance com o desconhecido no centro negro do olho alheio, ela vê os círculos. As gigantescas proporções. Vê novamente o brilho familiar e divino: É preciso ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Compartilha em aconchego.


2 comentários:

  1. Que lindo! Faz um livro, logo!
    São sentimentos tão profundos, com uma certa vontade de ir além!
    no fim, parece um pedaço de uma música que 'Pimentas do Reino' interpreta... "...Cabeça nas núvens e os pés no chão..." porém, com um toque a mais.
    Gosto muito dos seus textos, você já deve ter percebido isso! hahahhaha !
    beijoquinhas!

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  2. "A alegria é a nossa companhia, o amor é a nossa proteção. Mil vaga-lumes iluminam o caminho com tantas luzes que não há escuridão..."

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