segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Bate coração, dou-te plena liberdade

Olha lá, ela espera. Sabe pouco sobre amar e seus caminhos, chama seu coraçao livre, deixa-o bater. Debruça os olhos sobre as histórias que gotejam à sua frente. Ela quer abrir as asas não sabe como, sempre se precipita, tem dificuldade em calar, fala tanto que não se ouve.
Porque  fica assim em dias tranquilos? Empenha-se em gastar sua energia como pode. Corre, pula, não cansa. Quer mais, quer colo, quer troca. Ela murmura baixinho seus anseios pro mundo, por mais dificil: espera, pois sabe que a bonanca é vindoura. Sela o corpo, escolhe e nomeia suas intensidades, finca os pés na terra e sacode a poeira.
Seja bem-vindo ser novo, sinta-se em casa, pode vasculhar, conhecer minha novidade estremecida. Que dessa vez os desejos sejam plenos e as vozes se calem o necessário. Que a calma faça morada no peito, a serenidade diga os passos. Seja você quem for, seja o que deus quiser.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pés no chão, cabeça nas nuvens.

A menina fita a janela após um dia intenso de dedicação. Vê seus sonhos num reflexo simultâneo de acontecimentos. Sorri, sozinha, depois das luzes apagadas e o silêncio reinante. Sente um quentinho no peito, um aconchego de casa, de abraço materno, está só,  mas dentro, a multidão que a habita, felicita a hora do descanço. E com tanta alegria, decide permanecer um pouco mais a observar as gotas, as senhoras e seus guarda-chuvas, os bêbados e seus caminhos tortos. Sente-se livre, enfia a mão na terra das plantas da janela, fecha os olhos. Está subindo além das nuvens, acima da chuva. Brinca nas esrelas antes invisíveis, agora companheiras na imensidão. Gosta do escuro, do verdadeiro silêncio reinante, gosta de olhar pra terra lá longe. Observar as dúvidas de cima, parecem mais nítidos seus propósitos dessa forma. Encantada no fluxo leve com que seu corpo se move no espaço, a menina esquece das horas, da fome, dos desejos. Só quer pensar na lua, brincar nas estrelas, se perder no infinito.
Assim, vive a beleza sem tempo, delicia-se doce e ditosa.
Mas o peito revolve qualquer querência, a menina exita, há algo estranho.
Quer dividir. Contar a todos quão brilhantes são as novas amigas, quão linda é a terra e suas cores, quão intensa é a escuridão e a luz do caminho. Decide que mesmo tendo as galáxias como destino, quer a terra, quer tocar o chão e sofrer com a gravidade, quer colo e afago. Volta disparada, pra sua janela quadrada, recortada à noite.
Tem medo, de não voltar a amplitude, de não mais ver a vastidão gigantesca.
Se recolhe em seu ninho protegida, julga-se boba por acreditar nesses devaneios, sente-se estranha e fora de lugar.
Decide ir a rua, sentir as gotas molharem seus cabelos, correr frente aos carros, dançar nos postes, criar um novo ponto de vista, trocar com os bêbados e as senhoras.
Então, num olhar de relance com o desconhecido no centro negro do olho alheio, ela vê os círculos. As gigantescas proporções. Vê novamente o brilho familiar e divino: É preciso ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Compartilha em aconchego.


domingo, 9 de janeiro de 2011

Dite a beleza nos dias


Agradeço sua beleza
Seu presente inesperado
Surpresa sempre foi meu gosto favorito
Em seus olhos descanço a paz dos encontros
Serenos e plenos
Com sorriso inocente de criança
Com o cuidado da anciã matriarca
Com volúpia doce e fugaz da sedutora noturna
Afaga desejos e vontades
O coração se abre
As verdades se mostram no espelho da senhora
Da menina alegre
Da atriz que retoca a maquiagem
Dança tranquila a sutileza do objetivo
A delícia do agora

Escreve um bilhete costumeiro
Dite a poesia
Que alegra minha vida


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Volta ao exercício, ao ofício desejado. Traça linhas simbolicamente organizadas, deslizantes e macias, gostosas mesmo de compor qualquer tolice.
Borda o que o momento escolhe, segue num fluxo transbordante de nada, apenas desenrola no gesto puro da vontade, do trabalho. Cria sem porquê, só por criar. Só pelo gosto bom de correr a lateral da mão no liso branco do papel, da quase seda, das manhãs e caminhos coloridos, da maravilha. Escreve sobre escrever, transcrever o pensamento. Escorre da caneta o líquido saciador dos poros incansáveis da folha nova, pinta, cria a folha nova, a nova menina dos olhos do poeta. Começa. Escreve porque é necessário, porque a mão escorrega macia até a distância, segura, precisa, sustenta a vontade firme de dançar a tinta boa, brinca, discorre, percorre a fronteira da letra, desenha, esculpe a letra justa, a palavra inteira. Diz qualquer maluquice, esquisitice, mas faz a primavera. Retorna outono. Vadia inverno. E renasce verão.
Na palma leva o coração.